quarta-feira, 27 de abril de 2011

O avesso do território - Uma breve abordagem sobre as "multipliCidades"...


 
Amanda Dumont

Densidade e heterogeneidade. Conceitos que não mais definem sozinhos as cidades contemporâneas, mas redefinem uma série de efeitos colaterais que orientam novas formas de desvendar os múltiplos urbanos. Mapas e conformações físicas são insuficientes para esboçar a dimensão simbólica das cidades, dos croquis culturais e expressões oriundas da mentalidade urbana. Em Imaginários Culturais da Cidade: Conhecimento, Espetáculo e Desconhecimento, Nestor Canclini, professor da Universidade Autônoma Metropolitana do México, concebe as cidades a partir de três linhas conceituais: As cidades do conhecimento, com enorme poder de veicular informações, inovar e difundir tecnologias ao ponto de elaborar uma nova cidade, a do espetáculo. E por fim, fala-se das cidades multi e interculturais resultantes dos aspectos migratórios.
Os fenômenos inerentes a cidade constroem territorialidades também definidas pelos fluxos midiáticos. Jornais, rádios, cinema, a web e sobretudo a TV aberta ultrapassam as fronteiras físicas e tendem a formar simulacros de uma totalidade. Assim imaginários e comportamentos vão tecendo um modo global do pensar urbano. Tanta informação para a desinformação e conhecimento para o desconhecimento. Já a espetacularidade é conhecida! Projetos arquitetônicos colossais, realit’s show’s, culturas carnavalizadas. Porque não a higienização dos espaços públicos urbanos a favor do espetáculo? A privatização, o efeito paranóia dos centros urbanos e parafernálias eletrônicas dispersam o convívio social genuíno e concorrem para esvaziamento do sentido público desses espaços.
ONGs, artistas e ações comunicacionais de varias cidades, em especial da América Latina, têm acionado novas relações de aplicação do conhecimento na vida urbana com o propósito de rediscutir questões conflitantes da urbe e do desigual acesso à cultura. Políticas baseadas em estratégias estéticas criativas têm sido adotadas em torno de um cenário cruel e difícil de ser mudados pelas vias do discurso formal ou militar. Assim tem nascido a “cidade evocada”, surpreendente pelos movimentos civis lúdicos autônomos, temporários e subversivos.
            Não priorizar os espaços convencionais da cultural e ir de encontro com os transeuntes dos lugares urbanos públicos formais ou sucateados é o que tem incorporado o espírito de muitos grupos artísticos. É nesse pensamento de desconstrução de ritmos urbanos, de “brincar” com a rigidez do convívio social, que o Território do Avesso, coletivo cultural de Gov. Valadares, junto com outras poéticas e estéticas tem se apoiado. Invadindo a silhueta urbana o coletivo busca rediscutir a cidade mercadoria, reivindicar o senso de coletividade e o espaço público como lugar para a arte. Mas independente do território/cidade, a arte pública é definida pelo simples prazer do jogo. Ela é o território das pessoas, do encontro, da provocação e por naturalidade re-significa os lugares de passagem, religa o homem à seus pares e os homens a cidade onde vivem.